sábado, 9 de julho de 2011

Nuances da Vida - I

João Cláudio, 37 anos, um homem calado, sóbrio, alma mais velha que o corpo, já judiado pela vida. Não demonstra grandes ambições e nem um talento genial para o que quer que fosse, é mais um tipo comum. Bom funcionário, bom pagador, bom amigo, bom pai e ao que tudo aparenta bom marido também. Mas é um homem fechado e por isso pouco se sabe sobre o que se passa consigo mesmo. E embora toda a vida de João Cláudio tenha se passado ali, na mesma cidadezinha, com as mesmas pessoas, ninguém nunca desconfiou do que ele estava planejando fazer.
Era mais um dia como outro qualquer, a rotina foi a mesma a semana inteira, de forma que nenhum fato anterior poderia ser usado para justificar o presente. Somente poderiam ser usados como motivação a vontade de mudança e o cansaço da rotina que há 37 perdurou. Mas João Cláudio não quer falar sobre o assunto, nunca quis, mas agora o motivo pelo qual não o quer é outro.
Tarde de terça-feira, dia frio. O sol havia amanhecido sob neblina e estava a se por sob a serração. O dia todo havia se passado sem nenhum lampejo de alegria no céu. Os pássaros voavam como de costume e os cidadãos seguiam suas vidas como de costume. João Cláudio estava lá, como sempre, mas passava quase que despercebido tamanha era a constância dos dias que vinham se seguindo. Nenhum nuance de comportamento, de alteração de humor, nada foi detectado aos olhos daqueles que passaram por João Cláudio.
Seus olhos refletiam o mesmo de sempre, sua expressão era de aceitação, sua voz era indiferente. Foi desta forma que João Cláudio saiu de casa e era desta forma que ele estava voltando para casa. No caminho encontrou alguns conhecidos, cumprimentou-os e seguiu o seu caminho após mais um dia de labuta, como muitos outros. Como de costume entrou no boteco ao lado da oficina, ao fim da estrada de paralelepípedo antes de cruzar a ponte. Pediu uma dose do de sempre, tomou numa virada só, mas ao invés de pedir a segunda como de costume, perguntou ao dono se ele tinha um pedaço de corda para lhe arranjar.
O dono do boteco era também o dono da oficina e sem pedir explicações mandou João Cláudio ir aos fundos, na oficina e ver se encontrava. João Cláudio levantou-se e sem hesitar, nem segunda dose, entrou pela portinha que levava à oficina agradecendo ao dono do boteco.
No boteco os homens falavam sobre futebol, sobre o tempo e como tinha esfriado, sobre como os preços dos carros estão alto, enquanto uma ou outra fofoca sobre a vida alheia entremeava os diferentes e rotineiros assuntos. Falaram da mulher de um sujeito gordinho que entrou no boteco pra comprar cigarros, sobre como o Chico da loja de tintas emagreceu, sobre os filhos do Zeca, mas ninguém falou nada do João Cláudio, até que o dono do boteco deu por sua falta e perguntou aos outros se ele já tinha saído com a corda. Todo mundo acenou negativamente com a cabeça.
O dono do boteco esperou mais alguns minutos e depois, impacientemente, quase que num rompante chamou seu irmão Pascoal e seu filho, deixou o boteco aos cuidados de Janete sua mulher, e foram para oficina desconfiados de que João Cláudio poderia estar roubando alguma coisa.
Chegando lá, qual não foi a surpresa dos três. Ao ver João Cláudio ali, naquela situação. Cada um reagiu a sua maneira ao primeiro impacto, mas Pascoal tomou a iniciativa e sem pensar muito pai e filho o seguiram e partiram pra cima de João Cláudio. Deram-lhe uma surra tremenda, indignados que estavam com a situação, não mediram suas próprias forças e quase fizeram por João Cláudio o que ele estava por fazer quando eles chegaram e o interromperam. Quase mataram João Cláudio.
No depoimento à policia Pascoal declarou que quando viu João Cláudio ali, em pé em cima do banco e com um fio amarrado em seu pescoço, a raiva lhe subiu à cabeça de tal forma que só conseguiu pensar em matar aquele desgraçado que ia se matar na oficina dele e complicar a vida dele. João Cláudio disse que não tinha nada a declarar a não ser o fato de estar frustrado por não ter conseguido se matar, e de que não poderia tentá-lo novamente no dia seguinte, pois estava preso numa cama de hospital devido às pancadas que sofreu. Seu rosto estava desfigurado. Seus olhos, agora, figuravam toda a angústia daquele ser que, porque queria morrer, quase foi morto.
O dono do boteco tentava animar o filho dizendo que a polícia não poderia fazer nada a eles, pois tudo o que fizeram foi para salvar uma vida. E todo o resto da cidade que ficou sabendo da história deu a sua versão para as causas, motivos, razões e circunstâncias do ocorrido com João Cláudio. Muitos otimistas acreditam que a surra serviu para lhe mostrar o quanto a vida vale à pena, os pessimistas que também são muitos, acham que agora ele terá um motivo a mais para tentar se matar. Janete, a mulher do dono do boteco, está com medo de João Cláudio querer se vingar matando os três e em seguida se matar.
Quanto à motivação ao suicídio, as hipóteses são depressão, problemas em casa, drogas, João Cláudio é louco! Ele mesmo não confirmou nenhuma das hipóteses ainda.
O fato a ser comentado, é que o que João Cláudio planejou, mas não conseguiu concretizar vem se repetindo com sucesso naquela cidadezinha. Talvez ninguém ainda tenha notado, mas para uma cidade de aproximadamente 30 mil habitantes, uma taxa de 2 suicídios com sucesso é algo preocupante, acho que vale a pena investigar com seriedade as causas, já que no Brasil, um dos países que tem uma das menores médias do mundo, a taxa é de 4,9 suicídios a cada 100 mil pessoas por ano.

Por Elita de Abreu.
09/07/2011.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Faço versos pra ti,
pra outros também.
Faço versos pra mim
e muitas vezes pra ninguém.
Faço versos enfim,
porque eles me fazem bem.


Por Elita de Abreu.

domingo, 3 de julho de 2011

Minha Poesia

Não faço brincadeira com palavras,
nem jogos de rima.
Meus versos são o meu reflexo,
quem os lê com o corção
sente exatamente
qual foi a emoção,
o que estava em minha mente,
mesmo que aparentemente sem nexo.
Se faço uso da criatividade,
se inovo ou se plagio,
é sempre na tentativa de codificar
aos olhos insensíveis
para não entregar a um qualquer,
a alma, a minha alma,
que em versos tento decodificar.

Por Elita de Abreu

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Réplica

Calma,
assim vou me esgueirando,
pelos amores sordidos,
a espera do amanhã,
dos sonhos dourados.
Depois tanto me arrastar,
já definhando a ponto de desmaiar.
Deitar-me-ei a sua sombra,
um não-ser,
a suplicar,
na avidez de sobreviver.

Por Elita de Abreu.