...tão pouco de dinheiro. O maior problema da educação, não só no Brasil, mas agora, na América percebo isso nitidamente, é que ela é feita de pessoas.
Minha experiência aqui tem me dado ótimos e péssimos exemplos sobre o que pode vir a ser "educação".
Como monitora de 3 matérias, numa língua que não é a minha língua natal, e com alunos que vem de toda parte do mundo, devo dizer que, em todos os sentidos, eu aprendo muito mais ensinando do que sentada assistindo aula. Aprendo a me comunicar, a transmitir idéias complexas de forma simples, e principalmente, que professor não tem poder de ensinar, e sim de facilitar o caminho. Aprender depende de cada um, e há sim professores que podem ser desastrosos para o ensino, completamente desestimulante e pior traumatizante.
Para exemplificar, listo alguns fatos ocorridos nos últimos dois dias:
- Revolta: durante uma prova pego 5 alunos colando. Dou um primeiro aviso para ver se eles se tocam, mas eles seguem até o fim colando. Deixei, para não criar uma tensão na classe, mas à medida que entregavam a prova eu fazia uma marquinha nesta para identificar os trapaceiros e posteriormente, após falar com meu orientador, decidir o que seria feito.
Aos 5 minutos do fim da prova, somente 3 alunos na sala, um deles me entrega a prova com expressão de choro. Pergunto se está tudo bem e ele me diz que foi muito mal. Cara fiquei revoltada em ver aquele aluno sofrendo por ter ido mal, mas tentando dar o seu melhor, sem trapaça, enquanto os outros 5 riam do resto se gabando por estar colando. E sim, os 5 tiraram nota bem melhor que este. ( eu podia ir mais a fundo nisso tamanha é a minha revolta com isso, mas vou para por aqui, pq há ainda muito a escrever sobre os ocorridos dos dois últimos dias).
- Atitude Nobre: falo com meu orientador e ele acha que o melhor a ser feito é esperar a próxima prova para ver se os cinco vão tentar colar de novo ou se vão se tocar e fazer por merecer. Nenhuma punição? Não a priori, mas ele está indo mais fundo do que imaginei. Na verdade ele simplesmente sabe que esses caras não vão muito longe desse jeito, então ele está dando corda pra eles mesmo se enforcarem. A única forma de eles escaparem é estudando de verdade e fazendo as coisas por si mesmo. Ele deixou nas mãos deles mesmos o próprio destino.
- Humildade: esse mesmo orientador, na aula posterior, durante a apresentação de uma aluna, percebe através de algumas perguntas chaves, que ela não sabe exatamente do que está falando, e sim reproduzindo a leitura que fez, sem ter entendido bem. Ao invés de ele dar uma nota baixa a ela, ou simplesmente constrange-la, ele se levanta e explica pra sala toda, mas focado nela, o que estava por detrás daquelas equações. Ele entende que se o aluno não está entendendo algo, ou não sabe de algo que supostamente deveria saber, é papel dele ajudar nessa caminhada e respeitar as dificuldades de cada um.
- Malandragem: no fim da aula de hoje, um colega me chama para uma festa italiana que vai rolar no fim de semana. Digo que não sei se vou pois terei duas provas na semana seguinte e preciso estudar. Então ouço dele: pega a prova do ano passado e decora, essa matéria é moleza! Eu tirei A em tudo. Respondi: Na boa, eu larguei meu emprego pra estar aqui estudando, se fosse pra colar acho que não valeria a pena. Eu vim com um propósito, aprender, se vou ou não é outra história, mas vou pelo menos tentar. E cara, pra mim ele é tão trapaceiro ou mais que os outros cinco que peguei colando durante a prova pq ele colou antes mesmo da prova! Minutos depois ele me faz uma pergunta sobre esta matéria, que ele já fez e se gabou de tirar A, que não dava pra acreditar que ele não sabia. Na boa, perdi a paciência e dei logo um fora: é por isso que eu não decoro e sim aprendo!
- Decepção: num seminário de grupo, aquele mesmo professor do discurso bonito no início da aula (motivo de um post), simplesmente humilha os seus alunos e convidados também, na frente de todo mundo. Faz piadas grosseiras e ironiza o fato de alguns alunos não entenderem alguns conceitos. Além disso, se mostra um cara interesseiro ao máximo, quando outros alunos, ligados a indústria, cometem o mesmo deslize e ele simplesmente deixa passar. Totalmente constrangedor e desestimulante. Na saída, pelo menos 3 alunos, além de mim, disseram que não voltariam na próxima reunião.
Pra vcs verem como há alunos e alunos, e há professores e professores e não é uma questão de País. Pessoas! Fazer o que?!
Agora, prometo uma poesia pra quem adivinhar a nacionalidade de cada uma das pessoas. Dica: tem chinês, russo, brasileiro, americano e árabe.
Por Elita de Abreu, em 10/10/2013.