Não era o meu país, não era a minha língua, não eram os meus amigos, não era o planejado. Eu estava sozinha e amendrotada. Estava me agarrando a qualquer oi mais caloroso e puxando-o para mim, como se qualquer estranho pudesse se tornar um familiar e me dar forças. Não podem. Nem um, menos ainda o outro.
Faltavam ainda 30 minutos pro onibus chegar. Meu estomago estava a roncar. De medo, de ansiedade, de fome.
No banco ao lado um norueguês a ler o seu livro sobre Kafka. Do meu outro lado um polaco comendo banana verde. Ao meu redor cidadões do mundo se misturavam com os Ticos, destacando-os na pequena multidão. E eu, brasileira, estava alí me sentindo nem parte nem à parte.
Atravessei a rua e pedi um café. Com duas colheres de açucar por favor, que assim acostumou-me minha mãe. Tráz também um croissant com manteiga pra acompanhar, que a viagem de La Fortuna até Nosara vai ser longa.
Sentei-me na mesa ao lado do balcão, de frente para os doces. Era um típica padaria de cidade de interior. Enquanto esperava pelo pedido a solidão se fazia ensurdecedora ao questionar o que estava eu fazendo alí. O que fora eu buscar lá que não encontrava em nenhum outro lugar. Tentanva me desviar daquele pensamento, mas não conseguia. Cada estrangeiro que parava eu perguntava: Vai pra Nosara. E esperava ouvir de volta, como uma criança espera a provação do mestre: Sim, quer compania. Não ouvi.
Demorou 15 minutos pro café chegar. Pontualmente, de acordo com o Tico time. Estava morno, do jeito que gosto. Tomei o primeiro gole, como se bebesse da poção da solidão eterna. Sei que não mata, mas é amarga que só.
E entre meus devaneios e receios, olhei de relance para os doces novamente. Me deparei com a minha imagem refletida no espelho da vitrine. Não estava distorcida como esperava. E novamente a solidão falou, agora mudando o seu tom: sinceramente, não vejo diferença nenhuma entre o que vejo agora e o que via antes. É a mesma ainda. O que você quer dizer com isso. Que sua condição não mudou. Mudou o pais, mudou a língua, mudou as pessoas, mudou os planos, mas você sempre tomou o seu café sozinha. Olhei no fundos dos olhos do meu reflexo na vitrine de doces, procurando ali alguma negação ao que acabava de ouvir. Não foi o que vi. Vi olhos doces, serenos, a espera do próximo gole.
Bebi-o.
Foi o mais doce e suave trago dos últimos anos.
Em seguida a solidão pousou suas mãos levemente sobre a minha cabeça e sussurou em meus ouvidos: a gente sempre fez compania uma à outra e sempre se bastou.
O último gole de café foi degustado na presença de mim mesma, sem pressa, sem aflição, sem revelia, sem terror.
Foi um gole de café só.
Foi um gole de café, só.
Foi um gole de café à sós.
Foi um gole de café...
Fui sempre só.
Faltavam ainda 30 minutos pro onibus chegar. Meu estomago estava a roncar. De medo, de ansiedade, de fome.
No banco ao lado um norueguês a ler o seu livro sobre Kafka. Do meu outro lado um polaco comendo banana verde. Ao meu redor cidadões do mundo se misturavam com os Ticos, destacando-os na pequena multidão. E eu, brasileira, estava alí me sentindo nem parte nem à parte.
Atravessei a rua e pedi um café. Com duas colheres de açucar por favor, que assim acostumou-me minha mãe. Tráz também um croissant com manteiga pra acompanhar, que a viagem de La Fortuna até Nosara vai ser longa.
Sentei-me na mesa ao lado do balcão, de frente para os doces. Era um típica padaria de cidade de interior. Enquanto esperava pelo pedido a solidão se fazia ensurdecedora ao questionar o que estava eu fazendo alí. O que fora eu buscar lá que não encontrava em nenhum outro lugar. Tentanva me desviar daquele pensamento, mas não conseguia. Cada estrangeiro que parava eu perguntava: Vai pra Nosara. E esperava ouvir de volta, como uma criança espera a provação do mestre: Sim, quer compania. Não ouvi.
Demorou 15 minutos pro café chegar. Pontualmente, de acordo com o Tico time. Estava morno, do jeito que gosto. Tomei o primeiro gole, como se bebesse da poção da solidão eterna. Sei que não mata, mas é amarga que só.
E entre meus devaneios e receios, olhei de relance para os doces novamente. Me deparei com a minha imagem refletida no espelho da vitrine. Não estava distorcida como esperava. E novamente a solidão falou, agora mudando o seu tom: sinceramente, não vejo diferença nenhuma entre o que vejo agora e o que via antes. É a mesma ainda. O que você quer dizer com isso. Que sua condição não mudou. Mudou o pais, mudou a língua, mudou as pessoas, mudou os planos, mas você sempre tomou o seu café sozinha. Olhei no fundos dos olhos do meu reflexo na vitrine de doces, procurando ali alguma negação ao que acabava de ouvir. Não foi o que vi. Vi olhos doces, serenos, a espera do próximo gole.
Bebi-o.
Foi o mais doce e suave trago dos últimos anos.
Em seguida a solidão pousou suas mãos levemente sobre a minha cabeça e sussurou em meus ouvidos: a gente sempre fez compania uma à outra e sempre se bastou.
O último gole de café foi degustado na presença de mim mesma, sem pressa, sem aflição, sem revelia, sem terror.
Foi um gole de café só.
Foi um gole de café, só.
Foi um gole de café à sós.
Foi um gole de café...
Fui sempre só.
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