sábado, 17 de dezembro de 2011

Perfeição

Estar lado a lado
Só com o toque do seu olhar
Os cinco sentidos aguçados
Em minha mente posso te tocar
Sentir o aroma frutado
Dos seus cabelos a bailar
Beijar seus lábios molhados
Ouvir sua voz a cantarolar
Não se importar com os anos passados
Contar os segundos a cada suspirar
Com você ao meu lado
Cada gole de vinho é um breve sonhar
É um pedaço de bombocado
É magia a valsar
É a música predileta no teclado
É sentir que estou a amar.

Por Elita de Abreu.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Visão

Há aqueles que trocam as lentes
mas, continuam sem ver.
Há aqueles que nunca precisaram de lentes
Coitados! Cegos, nunca vão ver.
E ainda há aqueles que decidem
trocar de olhos.
Estes podem ver,
mas não podem crer.
Também há, e muitos, os que desfilam
de óculos escuros
(In)Felizes! Veêm só o que querem.
E há aqueles, raros,
que não precisam de olhos.
Sentem!

Por Elita de Abreu.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

The Blue Bell

Big, Big, Ben
It's ringing the bell
And it's always rings again.

The blue bell sings,
The blur eyes as well. 
I wish you could see
What are my feelings
And why It shouldn't be.

Big, Big, Ben
It's ringing the bell
And it's always rings again.

The words I wrote,
Sometimes it's for you,
Believe them it's up to you.
But now I'm broked
They are a way to find me again.

Big, Big, Ben
It's ringing the bell
And it's always rings again.

Por Elita de Abreu.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Relampejando

Meu coração é como um flash,
Um raio no meio de uma tempestade.
Toda vez que se ajita,
Bate mais forte, estrondosamente,
Uma verdadeira sinfonia de trovões.
Dispara ao léu,
Flashes luminosos, 
Relâmpagos apaixonados.
Cuidado com este coração,
Se for atingido
E não estiver precavido,
So Sorry!
Sem um pára-raio,
Serás destruído.

Por Elita de Abreu.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ventania

Uma brisa paira no ar,
Com cheiro de sal,
Com gosto de mar.
É a calmaria da meia vida.
Ao longe pode ser a tormenta,
O ciclone de cores
Que aos poucos se aproxima,
Pintando de tons pasteis
A paisagem matutina.
É o vento sudoeste,
Que sopra mudanças repentinas,
Tira do lugar tudo o que servia,
Revira o passado,
Altera a rotina.
Diferente do vento solar
E sua aurora boreal,
Não foi beleza que se viu no céu.
Foi o escurecer do amanhecer,
E nuvens, e neblina.
A tempestade que chegou
Não sabe até quando fica.

Por Elita de Abreu.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Sol do deserto.

No inicio era frio,
Distante, longínquo.
Aparecia timidamente,
Sem brilhar nem aquecer.
Mas eis que numa tormenta,
Um daqueles ventos fatídicos,
Deixou na porta errada
A carta do destino,
Mudando a sorte
Da poeta e do Menino.
Iniciou-se uma nova era
Explosões solares,
Lua de multifaces,
Trovas e rimas
E disfarces...
Como consequência inconsequente,
De dois corações
Que pensam e sentem,
O Sol aqueceu,
Aqueceu, desapareceu, aqueceu, desapareceu, aqueceu, aqueceu...
A ponto de deixar confusa
A Lua e a poeta,
A flor e suas pétalas...
Evaporando a alma,
Tirando-me a calma.
E agora, em meio a miragens 
O corpo vaga,
Em desassossego tormento,
Caminhando pelo deserto,
Sob um Sol masculino e incerto.

Por Elita de Abreu.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

É passado a primavera,
promessa de calor.
Este, de fato não chegou.
Acho que tudo acabou.

domingo, 16 de outubro de 2011

Atacama

Ao deserto enfim cheguei,
Com lagrimas nos olhos
Em ver a imensidão
De cores e formas
Que estava por conhecer.

Na beleza do vazio,
A música do vento pude ouvir.
Dancei à luz do sol,
Até ver de suas cores
Estrelas a surgir.

Da secura da terra,
Dos temperos das lagoas,
O frio, o calor, não o morno.
Sensações extremas 
Foi o que senti.

Fui só.
Fui grande.
Fui pequena.
Fui o bastante.
Sou errante.

Diante de tanta adversidade,
A diversidade,
Variantes sotaques,
Diferentes sonhos,
Terra: a Universidade.

Imagens marcantes,
Natureza desconcertante,
Sol, Lua, Vênus.
O céu da noite
Não é o céu do dia.

O balé dos Flamingos,
Brancos, pretos, rojos.
As lagunas e os vulcões,
El Salar y sus ojos,
Aclimatando os corações.


Subindo cada vez mais,
Uma linda vista panorâmica.
Bate a Puna!
Coração saltitante,
Dor de cabeça latejante.

O deserto é para poucos.
O deserto é para loucos.
Muitos vem em busca de sí,
Muitos chegam e perdem a sí.
O deserto está por aí.

Tomei banho de Sal
Para afastar o mal olhado,
Tomei banho de Lua
Para ganhar o amor desejado,
Purifiquei-me nas termas: águas medicinais.

Busquei a cura para minha alma,
Tentei com o vento,
Suas arestas aparar.
Mas que tola fui,
A esqueci em outro lugar...

Foi o corpo quem provou do deserto.
(É ele quem diz o que é certo)
De que adianta o Projeto ALMA,
Se a Razão decide,
Que o Coração é incerto?

E assim vou- me indo,
Da mesma forma que cheguei:
Deslumbrada com o Criador,
Por ter visto que mesmo em tamanha aridez
Há de nascer uma bela flor!

Por Elita de Abreu.

sábado, 8 de outubro de 2011

Sobre a Lua

Uma Lua desprovida de alma,
Desalmada, não malvada,
Mutante, tem que se adaptar
Para sua caminhada continuar.
Uma Lua que não se permite errar.
Uma Lua de muitas fases ( quantas são?)
Uma Lua passageira,
De pouca duração.
Não é astro, 
Não é nem estrela,
Não tem tem brilho próprio,
Não tem nascer,
Não tem morrer.
Aparece e desaparece á francesa.
É a Lua do trovador,
Que nela pensa quando sente a dor do amor,
Mas que exalta o Sol
Em seus dias de louvor.

Por Elita de Abreu

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Insônia

Não consigo dormir,
Minha alma esta agitada!
Penso, repenso, fecho os olhos e nada.
O quarto esta quente,
Mas o coração sente frio.
Lá fora chove, águas que correm pro rio...
Viro de um lado pro outro,
De cima pra baixo... levanto
Busco no colo materno um encanto.
Ouço passos, barulhos...
Quietinha, ao som da madrugada,
Sigo sem dormir, angustiada.
Recorro à medicina,
Ainda assim, ao sono resisto.
Solidão é o que sinto... Desisto!

Por Elita de Abreu.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Seca

A cascata que corre
Dos meus cristais frontais
Não é de água doce,
Nem potável.
É um líquido Salgado,
Viscoso, revoltado,
Pois tem consciência 
Que a sua falta
É causa de misérias, 
Mas também sabe que o pouco
Que escorre não alivia,
Nem ajuda os flagelados.

Por Elita de Abreu (31/10/2001).

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Sol e Lua

Enquanto o Sol dormia,
Se preparando para mais um dia,
A Lua, do outro lado, surgia
Manhosa, vagarosa, eu diria até preguiçosa.
O Sol já tinha feito tudo o que podia.
Iluminou, despertou, deu vida.
Orquestrou a sinfonia matutina,
Coloriu as nuvens da colina.
A Lua, em sua vida noturna,
Agia sorrateiramente: Gatuna!
Despertando os amantes,
Consolando os errantes,
Que como Sol e Lua vivem:
Um a procura do outro, 
Apaixonados pelo seu oposto,
E nunca desistem!

Por Elita de Abreu.

domingo, 11 de setembro de 2011

Not a word
Not alone
At night, 
When you go home
I just turn off the light
And come back  to my world.

By Elita de Abreu.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Alergia.

Lili está dodói
Nem consegue mais sorrir,
Tudo dói!
Com a cara toda vermelha,
Que coisa horrorosa!
À rosa rubra se assemelha.
Tem manchinhas por todo o corpo,
Na barriga, nos braços, no pescoço,
Parece até um angu com caroço!
O médico passou um remédio,
Disse que vai sarar,
Mas tem que esperar...Que tédio!
Lili está dodói,
E não vê a hora de poder sair,
Mas enquanto não melhora, assiste a um filme de cawbói!

Por Elita de Abreu.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nuances da Vida - II

Olha Seu moço, pra ser bem sincero eu num tenho nada a reclamar não. Por mim mesmo eu num ia nem dar queixa, mas quando eu acordei tudo já tinha se resolvido por sí só... E essa Dona né?Que Dona mais caridosa né? Acho que ela é uma das pessoas mais boas que eu já conheci na minha vida, ela mudou a minha vida pra melhor, pra muito melhor.
Antes Seu moço, eu num tinha nada, quer dizer, eu tinha perdido tudo, num dei valor à vida que tinha, desprezei minha família, meus amigos, meu trabalho, tudo. Mas aí essa Dona caiu do céu e mudou minha vida da água pro vinho. Foi um anjo que caiu do céu!
Seu Emanuel, acalme-se Se Emanuel. Eu chamei o senhor aqui somente para dar mais alguns esclarecimentos sobre o dia do acidente, não é para dar queixa. Devido 'a gravidade do acidente, o senhor tem direito a uma indenização por danos físicos e a uma pensão do Estado por invalidez, devido ao fato de o senhor ter ficado paraplégico. É isso o que manda a lei. Seu advogado já entrou com os papéis junto ao INSS e a indenização já foi paga, espontâneamente, pela Dona Miriam, além do seu tratamento, o qual ela também faz questão de pagar.
Então Seu Emanuel, o que eu queria do senhor agora é que o senhor respondesse algumas perguntas, que eu não pude fazer enquanto o senhor estava no hospital, somente para que no's possamos encerrar o inquérito e fechar o caso, tudo bem? Então vamos lá.
Seu Emanuel, onde o senhor se encontrava na noite de domingo do dia doze de outubro de 2010?
Como o senhor já sabe, que eu ate tenho umas passagens por aqui, eu morava na rua e dependia da ajuda dos outros pra comer, pra tomar banho, pra não passar frio, enfim, pra viver né? Aí, todo dia a noite eu passava lá no hotel pra ver se tinha sobrado alguma comida da janta pra mim, que sempre que sobrávamos o dono do hotel me dava. Comida boa...
Sim, prossiga.
Então, nesse dia eu tava entrando no hotel pra ver se tinha alguma coisa pra mim. Tinha acabado de atravessar a rua quando tudo aconteceu.
Certo. E antes disso, o senhor se encontrava aonde, fazendo o que?
Ah! Antes disso eu tava por aí, andando na rua, pedindo uma grana pra garantir a água né?
O senhor encontrava-se embriagado?
Não, ainda não. Eu tava juntando as moedas pra beber depois de comer. Eu sempre vazia isso porque se eu bebia antes de comer, eu acabava dormindo e acordava de madrugada com fome. E de madrugada é mais difícil arranjar comida.
E a sua família, o senhor esteve com a sua família neste dia?
Olha, pra ser bem sincero, fazia alguns anos que eu não tinha com a minha família. Desde que eu fui posto pra fora de casa e o juiz falou que se eu incomodasse eles de novo eu podia ir pra cadeia, por causa lá daquele lance que eu tinha bebido demais e bati na minha mulher e no meu filho, eu nunca mais falei com eles. Às vezes eu passava lá na frente da casa e ficava olhando, mas minha mulher e meu filho logo me botavam pra correr.
Pra você ver né Seu moço, até isso essa Dona me devolveu, agora a minha família voltou a falar comigo. Meu filho foi me buscar no hospital e me levou pra casa. É um milagre!
Bom, continuando, no momento da queda, o senhor percebeu o que acontecia ou foi pego de surpresa?
Fui pego de surpresa Seu moço, nunca imaginei que uma pessoa poderia cair em cima de mim. Além do mais, eu tava de costas, porque antes de cair em mim, disseram que a Dona bateu nos fios de alta tensão.
Disseram ou o senhor viu?
Disseram lá no hospital quando eu acordei. Eu tava de costas, só ouvi um barulho, mas nem me importei.
Logo depois da queda, do que o senhor se recorda?
Eu lembro que eu cai e ela ficou em cima de mim, e eu gritava de dor, e o pessoal corria gritando até a gente pedindo ajuda.
E depois disso?
Depois disso a ambulância chegou e eu fui lavado pro hospital.
O senhor conhecia a Dona Miriam?
Não, nunca tinha visto na minha vida. Aliás, achei uma judiação quando me contaram direito o que aconteceu no hospital? Uma moca nova, bonita, rica, né?
E o que contaram para o senhor no hospital?
Ah! Falaram que a Dona era muito rica e que ela tinha saído de casa falando que ia viajar por um longo tempo, mas que ela tinha feito reserva só de um dia no hotel. Disseram que ela pediu uma sopa pro jantar e uma água com gás. Nada de álcool. Ficou lá no maior silencio, no sétimo andar com sacada pra rua, fumou alguns cigarros e bem na hora que eu tava passando ela se jogou da sacada, na tentativa de se matar, mas ela bateu nos fios e depois caiu em cima de mim. Disseram que ela quase não se machucou, só ralou os joelhos e quebrou um braço. Já eu, que tava passando de boa, fiquei paraplégico. Hehehehe... a vida e' engraçada, né?
Falaram mais alguma coisa que o senhor se lembre e ache relevante?
Ah! Falaram também que ela deixou um bilhete dizendo que amava os pais dela e pedindo perdão pelo que ia fazer, mas não dizia o porque que ela ia se matar. O senhor com ela não falou Seu moço? Porque uma moca dessas faz isso?
Isso só Deus sabe...
Oh, mas eu num to reclamando não. Imagina, se não fosse por ela ter pulado e caído em cima de mim, minha vida num ia estar tão boa. Não posso mais andar, mas voltei pra casa, minha família me ama de novo e com o dinheiro que recebi vou poder dar uma vida melhor pro meu filho, diferente da minha. O médico ate falou que se eu me esforçar e fizer os exercícios direito eu ate posso voltar a andar. Mas eu não sei se quero não, sabe?! Porque assim eu não vou mais conseguir bater em ninguém quando beber demais e o juiz não vai me mandar embora de novo. Eu sou muito grato a Dona... dona Miriam né? Sou muito grato ao que ela fez por mim, viu?!
Bom senhor Emanuel, acho que podemos encerrar por aqui. Qualquer coisa eu mando chamá-lo novamente.
Obrigada Seu moço.
De nada. Se cuida e vê se para de beber.
Hehehehe...

Por Elita de Abreu, em 26/07/2011.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Quadratura

Inquietação, agitação, movimentação.
O céu, mutante, em sua constante transição.
O despertar da aurora numa nova vibração,
Acordou com energia os regidos por Escorpiao.
Logo imaginei, a Lua mudou de posição.
Sim, a Lua minguante surgira.
Ora pois, mas Aquário estava ainda na mesma sintonia,
Sem pressa,sem ansiedade, sem agonia.
Não era a Lua que esta revolução regia.
Mas algo no céu mudou, pois Peixes também reagiu.
Segundo os astrólogos era o Sol, que estava em Leão,
Movimentando todos os signos de água,
Deixando tal como estavam os de ar,
Acalmando os de terra
E os de fogo a ajudar.
E', o Zodíaco não mente,
Os astros estão a conspirar!

Por Elita de Abreu em 28/07/2011.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Bloqueio

Impossibilitada de exprimir,
de deixar fluir,
sentimentos que estão a ir e vir,
tenho vontade de chorar e de sorrir.

Não é acomodação,
nem mesmo contentação,
não me falta emoção,
onde está minha inspiração?

Meu coração bate apertado,
encantado com as novas cores,
entediado com os antigos ditados.

Minha mente vislumbra novas idéias,
concretiza ideais utópicos,
mas minhas mãos ignoram toda essa odisséia.

Por Elita de Abreu. (16/08/2011.)

sábado, 9 de julho de 2011

Nuances da Vida - I

João Cláudio, 37 anos, um homem calado, sóbrio, alma mais velha que o corpo, já judiado pela vida. Não demonstra grandes ambições e nem um talento genial para o que quer que fosse, é mais um tipo comum. Bom funcionário, bom pagador, bom amigo, bom pai e ao que tudo aparenta bom marido também. Mas é um homem fechado e por isso pouco se sabe sobre o que se passa consigo mesmo. E embora toda a vida de João Cláudio tenha se passado ali, na mesma cidadezinha, com as mesmas pessoas, ninguém nunca desconfiou do que ele estava planejando fazer.
Era mais um dia como outro qualquer, a rotina foi a mesma a semana inteira, de forma que nenhum fato anterior poderia ser usado para justificar o presente. Somente poderiam ser usados como motivação a vontade de mudança e o cansaço da rotina que há 37 perdurou. Mas João Cláudio não quer falar sobre o assunto, nunca quis, mas agora o motivo pelo qual não o quer é outro.
Tarde de terça-feira, dia frio. O sol havia amanhecido sob neblina e estava a se por sob a serração. O dia todo havia se passado sem nenhum lampejo de alegria no céu. Os pássaros voavam como de costume e os cidadãos seguiam suas vidas como de costume. João Cláudio estava lá, como sempre, mas passava quase que despercebido tamanha era a constância dos dias que vinham se seguindo. Nenhum nuance de comportamento, de alteração de humor, nada foi detectado aos olhos daqueles que passaram por João Cláudio.
Seus olhos refletiam o mesmo de sempre, sua expressão era de aceitação, sua voz era indiferente. Foi desta forma que João Cláudio saiu de casa e era desta forma que ele estava voltando para casa. No caminho encontrou alguns conhecidos, cumprimentou-os e seguiu o seu caminho após mais um dia de labuta, como muitos outros. Como de costume entrou no boteco ao lado da oficina, ao fim da estrada de paralelepípedo antes de cruzar a ponte. Pediu uma dose do de sempre, tomou numa virada só, mas ao invés de pedir a segunda como de costume, perguntou ao dono se ele tinha um pedaço de corda para lhe arranjar.
O dono do boteco era também o dono da oficina e sem pedir explicações mandou João Cláudio ir aos fundos, na oficina e ver se encontrava. João Cláudio levantou-se e sem hesitar, nem segunda dose, entrou pela portinha que levava à oficina agradecendo ao dono do boteco.
No boteco os homens falavam sobre futebol, sobre o tempo e como tinha esfriado, sobre como os preços dos carros estão alto, enquanto uma ou outra fofoca sobre a vida alheia entremeava os diferentes e rotineiros assuntos. Falaram da mulher de um sujeito gordinho que entrou no boteco pra comprar cigarros, sobre como o Chico da loja de tintas emagreceu, sobre os filhos do Zeca, mas ninguém falou nada do João Cláudio, até que o dono do boteco deu por sua falta e perguntou aos outros se ele já tinha saído com a corda. Todo mundo acenou negativamente com a cabeça.
O dono do boteco esperou mais alguns minutos e depois, impacientemente, quase que num rompante chamou seu irmão Pascoal e seu filho, deixou o boteco aos cuidados de Janete sua mulher, e foram para oficina desconfiados de que João Cláudio poderia estar roubando alguma coisa.
Chegando lá, qual não foi a surpresa dos três. Ao ver João Cláudio ali, naquela situação. Cada um reagiu a sua maneira ao primeiro impacto, mas Pascoal tomou a iniciativa e sem pensar muito pai e filho o seguiram e partiram pra cima de João Cláudio. Deram-lhe uma surra tremenda, indignados que estavam com a situação, não mediram suas próprias forças e quase fizeram por João Cláudio o que ele estava por fazer quando eles chegaram e o interromperam. Quase mataram João Cláudio.
No depoimento à policia Pascoal declarou que quando viu João Cláudio ali, em pé em cima do banco e com um fio amarrado em seu pescoço, a raiva lhe subiu à cabeça de tal forma que só conseguiu pensar em matar aquele desgraçado que ia se matar na oficina dele e complicar a vida dele. João Cláudio disse que não tinha nada a declarar a não ser o fato de estar frustrado por não ter conseguido se matar, e de que não poderia tentá-lo novamente no dia seguinte, pois estava preso numa cama de hospital devido às pancadas que sofreu. Seu rosto estava desfigurado. Seus olhos, agora, figuravam toda a angústia daquele ser que, porque queria morrer, quase foi morto.
O dono do boteco tentava animar o filho dizendo que a polícia não poderia fazer nada a eles, pois tudo o que fizeram foi para salvar uma vida. E todo o resto da cidade que ficou sabendo da história deu a sua versão para as causas, motivos, razões e circunstâncias do ocorrido com João Cláudio. Muitos otimistas acreditam que a surra serviu para lhe mostrar o quanto a vida vale à pena, os pessimistas que também são muitos, acham que agora ele terá um motivo a mais para tentar se matar. Janete, a mulher do dono do boteco, está com medo de João Cláudio querer se vingar matando os três e em seguida se matar.
Quanto à motivação ao suicídio, as hipóteses são depressão, problemas em casa, drogas, João Cláudio é louco! Ele mesmo não confirmou nenhuma das hipóteses ainda.
O fato a ser comentado, é que o que João Cláudio planejou, mas não conseguiu concretizar vem se repetindo com sucesso naquela cidadezinha. Talvez ninguém ainda tenha notado, mas para uma cidade de aproximadamente 30 mil habitantes, uma taxa de 2 suicídios com sucesso é algo preocupante, acho que vale a pena investigar com seriedade as causas, já que no Brasil, um dos países que tem uma das menores médias do mundo, a taxa é de 4,9 suicídios a cada 100 mil pessoas por ano.

Por Elita de Abreu.
09/07/2011.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Faço versos pra ti,
pra outros também.
Faço versos pra mim
e muitas vezes pra ninguém.
Faço versos enfim,
porque eles me fazem bem.


Por Elita de Abreu.

domingo, 3 de julho de 2011

Minha Poesia

Não faço brincadeira com palavras,
nem jogos de rima.
Meus versos são o meu reflexo,
quem os lê com o corção
sente exatamente
qual foi a emoção,
o que estava em minha mente,
mesmo que aparentemente sem nexo.
Se faço uso da criatividade,
se inovo ou se plagio,
é sempre na tentativa de codificar
aos olhos insensíveis
para não entregar a um qualquer,
a alma, a minha alma,
que em versos tento decodificar.

Por Elita de Abreu

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Réplica

Calma,
assim vou me esgueirando,
pelos amores sordidos,
a espera do amanhã,
dos sonhos dourados.
Depois tanto me arrastar,
já definhando a ponto de desmaiar.
Deitar-me-ei a sua sombra,
um não-ser,
a suplicar,
na avidez de sobreviver.

Por Elita de Abreu.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

.
"Azul é a cor do céu,
azul é a cor do mar.
Se o infinito desenhar,
use azul para pintar."


Por Elita de Abreu.

Tudo Passa

Na miha vida
tudo é passagem
e as pessoas que amo
passageiras.

Ainda menina
acostumei-me às perdas.
Aprendi cedo:
da vida sou passageira.

Todos aqueles cuja alma
tive certeza ser gêmea,
não diferente das outras (e eu sempre soube disso)
em minha vida foram passageiras.

E assim a vida vai passando,
por ela vou passeando,
de passagem pelas paisagens,
a espera dos passageiros.

Por Elita de Abreu.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

À Deriva

Não tenho laços,
não tenho lastro,
navego sem direção,
com um bocado de lembranças no bolso
e ao meu lado a solidão.
Companheira de todas as horas,
nunca me deixou na mão.
Não importa pra onde eu fosse,
ela sempre esteve alí, de prontidão.
Porque eu não tenho laços,
não tenho lastro,
e navego sem direção.

Por Elita de Abreu.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Eclipse

Se antes sol,
hoje chuva.
Dias indecisos,
calados, nublados, cinzentos,
numa bipolaridade de humores
entre sorrisos de canto,
brechas de raios iluminados entre as nuvens,
e choros repentinos,
repletos de saudades,
respingando na fina e fria chuva.
As vezes são horas de maresia pálida,
anunciando uma tempestade
que não se sabe se vai vir.
Olho da janela, sob a mesma apatia,
e às primeiras lágrimas
vejo flores se abrirem lá embaixo.
Mas mesmo assim os dias não se alegram,
pois a maioria das pétalas são tão negras,
quanto o céu que se estende sobre elas.
Enfim chega a noite,
e alí, na ausência de luz,
na penumbra da escuridão,
o céu pôde desabar
todas as lágrimas que tinha pra chorar.

por Elita de Abreu.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ou Isso Ou Aquilo

- Mas ele disse isso?
- Não, não disse...mas é.
- Como você sabe?
- Ué, porque ele não disse isso. Você diria isso?
- Mas você não perguntou isso a ele?
- Perguntei, mas não diretamente.
- Oras, mas se você não foi direta talvez ele não tenha dito isso porque não entendeu que era isso que você queria saber, se é que foi isso mesmo...
- Eu tenho certeza que foi isso, ele não disse mas foi.
- Não é melhor perguntar de novo?
- De novo?
- É, pergunta de novo.
- Eu não posso fazer isso, não posso simplismente ir lá e perguntar isso a ele.
- Mas você já não fez isso indiretamente?
- Não, eu deduzi que era isso.
- Tem certeza disso?
- Claro, porque você está duvidando disso?
- Não é disso que tenho dúvida, só quero saber se é isso mesmo.
- Isso o quê?
- Isso o que ele disse!
- Já falei que ele não disse nada disso. Logo só pode ser isso.
- Hum... Não sei não, mas ainda acho que pode ser aquilo...

Por Elita de Abreu.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Flor de maio

A flor que é tão bela,
a flor em fina cor,
rubra, alva, rosa,
és tu oh minha flor!
Um botão tão singelo,
como tu não há igual,
pétala por pétala a despertar
num desabrochar de encanto,
cores e odores.
Tento lhe alcançar,
mas se arma contra mim,
seus espinhos disfarçados,
em meus dedos ao tocar
fazem transbodar
a rubra cor que corre em mim
Mas caprichosa que o é,
me hipinotiza,
me faz te amar mesmo assim
Fico de longe a te observar
resplandecente à luz do luar,
resistente ao vento, à chuva,
a seca, ao meu lamento
Mas é chegada a sua hora,
e vai-se embora com o tempo
pétala por pétala
caindo, se desfazendo,
me deixando sem alento
Antes tivesse eu a fotografado,
teria comigo uma bela lembrança
uma linda paisagem.
Oh linda rosa!
Assim eu o quiz,
sua história, sua memória
que com a aurora chega ao fim.
Flor de maio é chegado junho,
Flor de maio esse é o nosso fim.

Por Elita de Abreu.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Desafio

Amar,
sábia decisão de um coração.
Impulso infeliz da razão.
Quanto de nós temos que abrir mão?
Quanto do outro deve ser posto a aceitação?
Tão simples quanto parece, não é não
As vezes é preciso esquecer de sí,
mas esquecer de sí é não mais o ser,
e se não o é, não pode amar.
Amar é mais que passar por cima dos defeitos,
é mais que esperar reciprocidade,
é mais, muito mais do que podemos dar.
Amar é ser frio diante do desamor,
é ser calculista na arte da sedução,
é vingar com o perdão,
é esquecer a compaixão,
é lutar em sua própria razão.
Se queres de fato amar,
mon ami,
abdique antes da paixão.

Por Elita de Abreu.

sábado, 28 de maio de 2011

Telefone sem fio

A Felicidade está onde a pomos,
o problema é que nunca estamos onde a pomos
e nunca a pomos onde estamos.

A Felicidade está onde há pombos,
o problema é que nem sempre estamos onde há pombos
e nem sempre há pombos onde estamos.

A Felicidade está em Roma,
e os italianos são o povo mais Feliz,
Viva a Itália!

Por Elita de Abreu.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

questionamentos da meia-noite

Quando a gente sabe se é feliz?
É preciso provar de amargura
para se dar conta do quão doce a vida me é?
A ilusão da felicidade plena ocidental,
pandemia universal,
nos torna infelizes por nos fazer acreditar,
não que somos infelizes,
mas que podemos ser mais e mais e mais e cada vez mais feliz
E eu me pergunto, é possível que a felicidade seja exponencial?
Como a gente sabe se é feliz?
na lógica obscura que me permeia
surge o questionamento a essa filosofia barata da modernidade:
ser mais feliz hoje significa que ontem eu era infeliz?
Que o faz crer nisso? Porque crê nisso?
É necessário que se sinta infeliz para buscar a felicidade?
que comparativo se usa para tal?
Vale a pena encarnar Luísa,
ainda que por um ou dois dias,
para se certificar que sim?
Vou dormir me perguntando:
A gente sabe se é feliz?

Por Elita de Abreu.

domingo, 22 de maio de 2011

Antagonia

Oh injusto mundo dos justos
Dos amantes racionais
Dos homens de fé que duvidam
Dos que perdoam, mas não esquecem
Dos leais que se traem
Dos otimistas prevenidos
Dos sonhadores que não se arriscam
Dos sinceros que magoam
Dos honestos que se escondem
Dos diferentes que querem ser iguais
Dos vencedores que não disputam
Dos solitários que vivem em multidões
Dos pensadores que agem instintivamente
Dos profetas que não acreditam no futuro
Dos ignorantes maliciosos
Dos bem sucedidos frustrados
Dos gênios ingênuos
Dos calculistas passionais
Dos alegres depressivos
Dos rebeldes ponderados
Dos suicidas que amam a vida
Dos poetas desiludidos
Dos corajosos que, covardes, não aceitam a realidade
De todos aqueles que são, mas lutam contra o ser!

Por Elita de Abreu

domingo, 1 de maio de 2011

Sol maior

Um rouxinol quando silencia
é porque está no fim da vida...
Porque silenciaste rouxinol?
Teu canto é belo
e faz meus dias menos cinza
Canta rouxinol, canta!
sem teu canto
sou uma metade inteira
sou meio poeta,
meio menina,
sou meio feliz,
Canta rouxinol, canta!
almenos uma nota
canta para mim.

por Elita de Abreu

o que significa In Media Res?

Aaguns frequentadores do meu blog recentemente me perguntaram o que significava o título do blog e o porque da escolha.
Bom, como foram mais de dois que me perguntaram, resolvi escrever aqui, no próprio blog o que significa. Lá vai:

In media(s) res (latim para "no meio das coisas") é uma técnica literária onde a narrativa começa no meio da história, em vez de no início (ab ovo ou ab initio). Os personagens, cenários e conflitos são frequentemente introduzidos através de uma série de flashbacks ou através de personagens que discorrem entre si sobre eventos passados. Obras clássicas tais como a Eneida de Virgílio, a Ilíada de Homero ou a obra renascentista Os Lusíadas de Luís de Camões começam no meio da história. (fonte: wikipédia)

Logo, o significado do titulo Eu In Media Res para o blog foi devido ao fato de que neste não sigo nenhuma linha cronológica das coisas. Eu , Elita, estou no meio dos acontecimentos, no meio da minha vida , volto ao passado quando bem entendo, vou ao futuro quando me convém ( e não me convêm muito em geral), enfim, o intuito do blog é transmitir as minhas idéias do dia a dia, com alguns flashs do passado, indagações sobre o futuro e assim ir compondo a minha própria história, a partir do hoje e do agora...

terça-feira, 19 de abril de 2011

Já que estamos falando de sentimento, razão e tudo o mais, aí vai uma das antigas...

Sentido

Há uma lágrima a cair
Quando um coração decide amar
Há uma decepção por vir
Quando a razão decide atuar

Onde há sentimento
Há constragimento

Sempre há uma lágrima a cair
Quando um impulso marcar
Sempre há uma decepção por vir
Quando uma regra se aplicar

Onde há ressentimento
Há estranhamento

E sempre há uma lágrima a cair
Quando um desejo falar
E sempre há uma decepção por vir
Quando um valor afetar

Onde há desentendimento
Há sofrimento

Mas sempre há uma lágrima a cair
Quando um afeto se calar
Mas sempre há uma decepção por vir
Quando uma palavra vagar


por Elita de Abreu em 31/08/2007.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Janelas Quebradas

Até hoje me pergunto o que define um ser humano? as suas vivências, o seu caráter, a sua educação...? Como será essa equação? quais os fatores têm mais pesos, o que é ruído, o que é aleatório, de quanto será o erro? Confesso que esse tema me chama muito a atenção, chega a me tirar o sono, porém há perguntas que jamais serão respondidas.

Quando paro para refletir apenas sobre mim mesma, a qual se trata do material experimental dessa equação que mais conheço, ainda assim muitas questões ficam no ar, sem respostas, mas no ar, me inquirindo, me apontando, no ar...

Há pouca coisa que sei verdadeiramente sobre mim e sobre o meu caráter, e muitas dessas coisas só vim a descobrir com tempo. Mas se tem uma coisa que sempre soube sobre mim é que eu nunca suportei pagar pelos erros alheios, principalmente, quando nem ao menos fui consultada a respeito da execução destes. O porquê? Não sei, também está no ar... Mas essa é uma característica marcante na minha pessoa, desde os tempos de infância.

Eu devia ter uns dez, onze anos. Meu avô morava conosco no quartinho dos fundos. Minha mãe ganhava o pão de cada dia na escola, como professora substituta. Eu e minha irmã? Bem nós íamos à escola de manhã, brincávamos à tarde e só à noite, quando minha mãe voltava da escola fazíamos o dever de casa. Não que tivéssemos dificuldade, mas queríamos atenção.

E foi numa dessas tardes de brincadeira no vizinho que esse traço do meu caráter começou a ser testado e a deixar a sua marca. Era uma tarde normal, meninas brincavam de boneca, enquanto os meninos treinavam o gol a gol no corredor. O barulho da bola às vezes irritava demais, virava e mexia nos acertava e algumas vezes doía. Na maioria das vezes irritava e iniciava-se aí uma discussão. Meninos tem o dom de estragar a brincadeira das meninas.

Eu não lembro exatamente como tudo aconteceu nessa tarde, só lembro que brinquei e fui pra casa na hora de costume esperar minha mãe voltar. Em meio à tarefa de casa, depois do sermão costumeiro do meu avô, de que não se estudava a noite, que agente brincava demais e que minha mãe tinha que ficar mais em casa pra cuidar da gente, ouvimos palmas no portão e alguém chamar o nome da minha mãe. Era uma vizinha. Ela ficou na varanda falando com minha mãe, enquanto eu e minha irmã ficávamos na mesa da cozinha terminando de estudar sob a vigia do vovô.

Depois de alguns minutos minha mãe entrou em casa enfurecida, gritando os nossos nomes, meu e de minha irmã, e entrando no quarto. Fomos até a sala e eis que ela surge com a cinta na mão. Juro, nesse momento eu ainda não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas de duas coisas eu tinha certeza: eu odiava a vizinha; o couro ia comer!

Dito e feito, antes do coro comer, veio a explicação:

- Quantas vezes eu já falei para vocês duas não jogarem bola no corredor do vizinho? Quantas?

- Mas mamãe...

- Às vezes eu acho que falo grego! Eu falei mais de mil vezes que essa brincadeira não ia dar certo! Agora olha só, quebraram a vidraça da vizinha e quem vai ter que pagar por isso? Eu, sempre eu... Não basta ser pai e mãe, ainda tenho que arcar com o prejuízo de duas crianças teimosas!

- Mas mãe...

- É, porque a única que trabalha aqui nesta casa sou eu, vocês só tem que ir à escola e tirar boas notas e nem isso andam fazendo direito, todo dia a noite tem tarefa por fazer. Blá blá blá, blá blá blá, blá blá blá...

Nessa hora a raiva era tanta que eu nem escutava mais o que minha mãe dizia, só pensava “Vai, bate logo e acaba com isso, não fui eu e não quero ouvir esse sermão”. E o pior de tudo era ver, e ouvir o papagaio do meu avô atrás:

- Eu falei que você não está educando essas meninas direito. Trabalha o dia todo. Elas fazem o que querem. Aí, fizeram arte não contaram nada. Duas gatunas e blá blá blá, blá blá blá, blá blá blá...

Será que meu avô não sabia que minha mãe trabalhava porque precisava e não por que queria? Era ela e só ela, sem a ajuda de ninguém que bancava tudo, inclusive ele, que só reclamava. Até eu e minha irmã mais nova sabíamos disso. Qual era a dificuldade? E porque ele ficava lá, dando palpite e só piorando as coisas ao deixar minha mãe ainda mais nervosa?

Não agüentei tanta injustiça e explodi:

- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO FUI EU!!! NÃO FUI EU!!!! Eu não estava jogando bola eu estava brincando de boneca, pode perguntar para todo mundo. NÃO FUI EU!!!

O tapa foi certeiro. Chorei de raiva, não foi pela dor, foi pela injustiça. Não houve cintada, mas o castigo não foi barato. Três meses sem a mesada que ganhávamos por fazer pequenas tarefas em casa e nada de passar a tarde brincando. Era de casa pra escola, da escola pra casa. A mesada seria usada para pagar a vidraça quebrada.

Fui dormir irada com tudo! E meu avô lá ainda enchendo os ouvidos da minha mãe: que na minha época... porque você deveria... essas meninas... Que velho chato!!!

No dia seguinte acordei decidida! Não enrolei pra acordar, tomei o café da manhã rápido, peguei algumas pedras no quintal, botei no bolso do uniforme, dei tchau pra minha mãe e antes de partir pra escola atravessei a rua, apertei a campainha da vizinha, chamei-a para a calçada e atirei todas as pedras até quebrar a vidraça da frente, ensandecida! Ela me olhava com os olhos arregalados, minha mãe veio correndo em minha direção, minha irmã ficou do outro lado da rua aflita e meu avô na janela sem entender nada.

Quando chegou até mim, minha mãe me deu um chacoalhão e perguntou com voz áspera e dura:

- Você está louca? O que você está fazendo? Já não bastava o prejuízo de ontem? Eu acabei de fazer o cheque...

E eu com lágrimas nos olhos de ódio, olhei pra ela disse:

- Ué, estou quebrando a janela pela qual você vai pagar, porque as outras não fui eu. Não acho justo pagar por algo que não fiz! Como vocês não acreditam em mim, resolvi então quebrar a janela, agora tanto o castigo, quanto o tapa e o cheque estão de acordo com o que foi feito, sem nenhuma injustiça. Não me importo mais de ficar de castigo agora!

Minha mãe me pegou pelas mãos, entregou o cheque à vizinha se desculpando, e descemos a rua em direção à escola. As três com um sorriso de canto, as três satisfeitas com o acontecido, as duas pensando a mesma coisa sobre mim, só minha irmã expressando:

- Maninha, você é louca, mas eu te adoro!

É claro que não ficamos livres do castigo e nem do blá blá blá do meu avô, mas pelo menos eu não tive, ou melhor, não tivemos que pagar por algo que não fizemos.


Por Elita de Abreu.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Sexto Sentido

Sentido

Sem sentido

Senti


Sem tí

Sem ter tido


Sem nexo

Só sentido

Sexo sentido.


Por Elita de Abreu, com um toque bene dolce...


quinta-feira, 10 de março de 2011

Mensagens subliminares

'
Cada vez mais tenho lido livros infantis, não sei exatamente o que me tem levado a eles, se é o cansaço dos livros adultos de hoje em dia, que não passam de novelinhas da seis ou se é a falta de criatividade das ficções científicas, pode ser também um aviso dos tempos... Enfim, o fato é que esses livros infantis muitas vezes, quase sempre, me surpreendem.
É incrível como há mensagens subliminares sutilmente diretas nesses livros. Hoje o que posto para vcs é uma pérola dessas, que se encontra no livro "Luka e o Fogo da Vida" do autor indiano Salman Rushide ( o mesmo de versos satânicos que foi por anos perseguido, se ainda não o é...). '

"Um ônibus lotado passou levando gente para zona industrial, onde antes ficavam as fábricas de tristeza. As coisas tinham mudado em Kahani, e a tristeza não era mais o principal produto de exportação da cidade, como tinha sido quando Haroun, o irmão de Luka, era menino. A demanda por peixosos tinha caído, e as pessoas preferiam comer produtos mais saborosos de lugares mais distantes, as enguias risonhas do sul, a carne do cervo hope do norte, e cada vez mais as comidas vegetarianas e não vegetarianas oferecidas nas lojas Cheery Orchard que estavam abrindo onde quer que se olhasse. As pessoas queriam se sentir bem mesmo não havendo tanta razão para se sentir bem, então as fábricas de tristeza tinham fechado e se transformado em Esquecimentos, imensas galerias onde todo mundo ia dançar, fazer compras, fingir e esquecer. Luka, porém, não estava a fim de se enganar. Ele queria respostas. "

Aos olhos de um adulto, a crítica a sociedade atual é muito nítida nesse trecho, mas será que também o é aos olhos de um criança e/ou adolescente? Daí o porque de eu intitutá-la mensagem subliminar...
Isso me fez pensar que, afinal, todos os livros infantis são escritos por adultos, portanto no fundo eles são para adultos, são para formarem adultos e talvez isso explicaria essa linda mensagem subliminar...Mas e se os livros fossem escritos por crianças, o que poderíamos esperar? E mais ainda, isso me fez crer o quão revolucionário pode ser um livro...
Imagine, um livro infantil dizendo para o seu filho, de forma sutil e quase mascarada, que não há motivo nenhum para ser feliz all the time, que há mais tristeza que felicidade e esquecer isso não o fará mais feliz de fato, isso o fará um tolo enganado e iludido, que pagará o que for por algo que nunca porderá ter: a felicidade plena. Imagine ainda, que na maioria das vezes os pais se quer sabem o que os filhos estão lendo, pq não leram e muitas vezes tb não tem a menor condição de perceber mensagens como estas. Na boa, essa é a melhor revolução que se pode armar.
Taí, acho que vou me dedicar a escrever livros infantis, deve ser mais fácil criar algo novo que tentar mudar os velhos.
É...livros infantis são para adultos, futuros adultos...Bom, mas isso é papo para uma outra postagem.
'

terça-feira, 1 de março de 2011

ECO

Sabe, uma vez eu tava meio cansada da vida, cansada de as pessoas pedirem minha opinião sem de fato querer ouví-la, mas sim querendo ouvir o eco do que pensavam... Então eu decidi que eu iria ler todos os filósofos mais famosos, os quais são bem contráditórios entre sí, para nunca mais dar a minha opnião, mas sim sempre dizer o que eu realmente pensava, ou se fosse o caso de não contrarriar o inquiridor, segundo tal autor, como forma de me poupar.
Ainda estou na escalada dessa meta, mas com o tempo venho observando que na verdade nem isso tem me poupado, pois quando cito alguém, me acham pedante e exibida, e isso me leva a concluir que minha opinião sobre qualquer coisa que seja não tem valor quando questionada, uma vez que as pessoas querem apenas ouvir o seu próprio eco.
Oras, para isso bastava que falassem sozinhas em voz alta!
Tenho atribuído muita força e determinação em não emitir mais opnião alguma, porém, não se pode negar o que se é, e sou como os outros: por mais que me segure, gosto de ouvir o meu próprio eco. Por isso escrevo...

por Elita de Abreu.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Últimos minutos dos meus 26 anos

`
Devia ser um momento de comemoração
um momento de reflexão,
um momento de evolução,
um momento de sensação,
um momento de emoção,
mas só um momento...Não!

Quero que seja eterno,
quero que seja finito,
quero que seja terno,
quero que seja um grito,
quero que seja inverno,
quero que seja bonito...

Foram anos de invenção,
anos de decepção,
anos de dilapdação,
anos de criação,
anos de paixão,
mas a obra completa ainda não está pronta... ainda não!

Por Elita de Abreu.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Breve Homenagem

Esse versinho é só para comemorar a saída do meu caro amigo do hospital...

There is much wine
in the world around
that is pretty fine
and costs less than 1 pound.
_

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sob a Luz do Luar

.
.
.
Um homem olhou a Lua
e sentou para admirar
Um homem olhou a Terra
e procurou onde acampar
.
Somos fracos, somo fortes,
somos férteis e ignóbeis,
ao pensar que nesta Terra
poderíamos nos fixar,
Ao pensar que deste Solo
poderíamos comprar o luar
Somos sádicos, somos vís,
somos bravos e febrís
.
Um homem olhou a Lua
e pôs-se a questionar
Um homem olhou a Terra
e logo começou a lavrar
.
Havia candura, havia encanto,
havia ambição e muito pranto
Quem imaginaria que nesta Terra
muito sangraria
Quem imaginaria que deste Solo
seu povo não usufruiria
Havia ódio, havia luta,
havia esperança e muita labuta
.
Um homem olhou a Lua
e disse eu vou lá
Um homem olhou a Terra
e a quis dominar
.
Será a glória, será o poder,
será a escória e o sofrer
Teria nesta Terra
as regalias de um rei
Teria deste solo
um julgamento perante a lei
Será a história, será a derrota,
será o escárnio e a anedota
.
Um homem olhou a Lua
e sua beleza o fez chorar
Um homem olhou a Terra
e teve coragem para matar
.
Era dia, era noite,
era a espada e o açoite
Desejava que nesta Terra
tudo fosse seu
Desejava que deste Solo
receberia o que se prometeu
Era riqueza, era tirania,
era tristeza e ninharia
.
Um homem olhou a Lua
e no mar se jogou
Um homem olhou a Terra
e cansado se entregou
.
Inquietação, Revolução,
Rejeição, Aniquilação
O homem nesta Terra
nada construiu
O homem deste solo
tudo destruiu
Cegueira, Cobiça,
Desastres, Malícia
.
Um homem olhou a Lua
e ficou enlouquecido
Um homem olhou a Terra
e desejou não ter nascido.
.
Por Elita de Abreu/2008.