sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Educação não é só uma questão de política...

...tão pouco de dinheiro. O maior problema da educação, não só no Brasil, mas agora, na América percebo isso nitidamente, é que ela é feita de pessoas.
Minha experiência aqui tem me dado ótimos e péssimos exemplos sobre o que pode vir a ser "educação".
Como monitora de 3 matérias, numa língua que não é a minha língua natal, e com alunos que vem de toda parte do mundo, devo dizer que, em todos os sentidos, eu aprendo muito mais ensinando do que sentada assistindo aula. Aprendo a me comunicar, a transmitir idéias  complexas de forma simples, e principalmente, que professor não tem poder de ensinar, e sim de facilitar o caminho. Aprender depende de cada um, e há sim professores que podem ser desastrosos para o ensino, completamente desestimulante e pior traumatizante.
Para exemplificar, listo alguns fatos ocorridos nos últimos dois dias:

- Revolta: durante uma prova pego 5 alunos colando. Dou um primeiro aviso para ver se eles se tocam, mas eles seguem até o fim colando. Deixei, para não criar uma tensão na classe, mas à medida que entregavam a prova eu fazia uma marquinha nesta para identificar os trapaceiros e posteriormente, após falar com meu orientador, decidir o que seria feito.
Aos 5 minutos do fim da prova, somente 3 alunos na sala, um deles me entrega a prova com expressão de choro. Pergunto se está tudo bem e ele me diz que foi muito mal. Cara fiquei revoltada em ver aquele aluno sofrendo por ter ido mal, mas tentando dar o seu melhor, sem trapaça, enquanto os outros 5 riam do resto se gabando por estar colando. E sim, os 5 tiraram nota bem melhor que este. ( eu podia ir mais a fundo nisso tamanha é a minha revolta com isso, mas vou para por aqui, pq há ainda muito a escrever sobre os ocorridos dos dois últimos dias).

- Atitude Nobre: falo com meu orientador e ele acha que o melhor a ser feito é esperar a próxima prova para ver se os cinco vão tentar colar de novo ou se vão se tocar e fazer por merecer. Nenhuma punição? Não a priori, mas ele está indo mais fundo do que imaginei. Na verdade ele simplesmente sabe que esses caras não vão muito longe desse jeito, então ele está dando corda pra eles mesmo se enforcarem. A única forma de eles escaparem é estudando de verdade e fazendo as coisas por si mesmo. Ele deixou nas mãos deles mesmos o próprio destino.

- Humildade: esse mesmo orientador, na aula posterior, durante a apresentação de uma aluna, percebe através de algumas perguntas chaves, que ela não sabe exatamente do que está falando, e sim reproduzindo a leitura que fez, sem ter entendido bem. Ao invés de ele dar uma nota baixa a ela, ou simplesmente constrange-la, ele se levanta e explica pra sala toda, mas focado nela, o que estava por detrás daquelas equações. Ele entende que se o aluno não está entendendo algo, ou não sabe de algo que supostamente deveria saber, é papel dele ajudar nessa caminhada e respeitar as dificuldades de cada um.

- Malandragem: no fim da aula de hoje, um colega me chama para uma festa italiana que vai rolar no fim de semana. Digo que não sei se vou pois terei duas provas na semana seguinte e preciso estudar. Então ouço dele: pega a prova do ano passado e decora, essa matéria é moleza! Eu tirei A em tudo. Respondi: Na boa, eu larguei meu emprego pra estar aqui estudando, se fosse pra colar acho que não valeria a pena. Eu vim com um propósito, aprender, se vou ou não é outra história, mas vou pelo menos tentar. E cara, pra mim ele é tão trapaceiro ou mais que os outros cinco que peguei colando durante a prova pq ele colou antes mesmo da prova! Minutos depois ele me faz uma pergunta sobre esta matéria, que ele já fez e se gabou de tirar A, que não dava pra acreditar que ele não sabia. Na boa, perdi a paciência e dei logo um fora: é por isso que eu não decoro e sim aprendo!

- Decepção:  num seminário de grupo, aquele mesmo professor do discurso bonito no início da aula (motivo de um post), simplesmente humilha os seus alunos  e convidados também, na frente de todo mundo. Faz piadas grosseiras e ironiza o fato de alguns alunos não entenderem alguns conceitos. Além disso, se mostra um cara interesseiro ao máximo, quando outros alunos, ligados a indústria, cometem o mesmo deslize e ele simplesmente deixa passar. Totalmente constrangedor e desestimulante. Na saída, pelo menos 3 alunos, além de mim, disseram que não voltariam na próxima reunião.

Pra vcs verem como há alunos e alunos, e há professores e professores e não é uma questão de País. Pessoas! Fazer o que?!

Agora, prometo uma poesia pra quem adivinhar a nacionalidade de cada uma das pessoas. Dica: tem chinês, russo, brasileiro, americano e árabe.

Por Elita de Abreu, em 10/10/2013.

6 comentários:

  1. Muito bom ver esse relato. Eu fico descrente com a humanidade com algumas atitudes, mas tem outras que dão esperança de melhoras.
    Aqui as coisas estão feias. A última bomba foi a iniciativa de exonerar 400 professores que entraram em greve e fizeram manifestações. Esses educadores apanharam da polícia, foram humilhados e não tiveram chance de diálogo. A câmara aprovou com pressa uma medida pra votar em regime de urgência as propostas de mudança no plano de carreira e no salário dos professores. Foram muitas injustiças, e agora o Cabral e sua trupe querem que eles sejam exonerados.

    Sobre as nacionalidades, tu criou uma pegadinha aqui, mas eu vou arriscar:
    O aluno triste por ter ido mal é chinês.
    O orientador e os coladores são americanos.
    O malandro que pegou a prova antiga é brasileiro.
    A aluna da apresentação é árabe.
    O professor do discurso bacana, mas que foi arrogante, é russo.

    Quero saber a resposta correta, tá?
    ;-)

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    1. O Cabral, por muitas vezes já provou que é o governador que o Rio merece...
      Achei bem previsível está atitude dele, pra ser bem sincera.
      Mas o bixo tá pegando mesmo aí neh?!
      Eu lamento, pelos professores e pelos alunos, mas é um pouco a colheita do que se vinha plantando.
      Pra mudar de verdade não ia ser sem dor. Bom doendo acho q já está, só espero que mude de verdade e pra melhor.

      Bom, vc acertou duas nacionalidades ( a do orientador não vou considerar pq vc já tinha essa informação a priori, portanto não vale malandro ! rs):
      O brasileiro ( bem típico neh?! Mas houve outros fazendo o mesmo... É q este quis tirar uma com a minha cara, detalhe eu tirei A e ele B...) e o russo.
      Ainda tem chance! ( agora tá bem fácil neh?! )

      PS: Ow a galera aqui cola muito, to impressionada!!! Não esperava ver isso na pós, e muito menos aqui...

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  2. Hey! Malandro nada, eu precisei pensar um pouco sobre o orientador! O Castagna poderia ser de qualquer outra nacionalidade, ainda mais com esse sobrenome italiano ou espanhol. E tu poderia estar com dois orientadores, certo?
    Eu realmente esperava que os coladores fossem americanos, com toda a arrogância que se espera deles. Vou mudar esse grupo para os chineses.
    O aluno triste é árabe, e a garota que tentou enrolar na apresentação é americana. É realmente uma pegadinha, porque o texto traz um clima de surpresa, então qualquer nacionalidade pode combinar com essas atitudes. E o fato de tu ter proposto o desafio já mostra que é uma bagunça! =P
    Eu vejo o Rio como um estado de polícia típico, onde a justiça foi oprimida pelo executivo, que já tem o legislativo nas mãos e não se importa mais em machucar a sociedade. Aqui o trato é a coerção, não o diálogo, e as pessoas acham normal. Sem toda a briga dos manifestantes, ninguém perguntaria se o regime é bom ou ruim, por isso eu estou orgulhoso do povo carioca.
    Tudo começou com o Cabral oferecendo mais segurança, mas ninguém ouviu ele dizendo que tudo tem um preço. Talvez tu volte pra cá um dia e encontre um lugar melhor, mas não sem doer em muita gente, por muito tempo. Triste, né?

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    1. Na verdade, essa semana tive mais provas e notei que todo mundo cola e muito aqui, independente da nacionalidade.
      fiquei decepcionada, pois não esperava isso na pós graduação e muito menos aqui!
      E sim, o texto é uma pegadinha mesmo, pq é pra deixar claro que educação não é só uma questão de política e sim de pessoas, principalmente disso. E pessoas, são pessoas em qualquer lugar, cultura o que for. Vc encontra diferenças, ou melhor, peculiaridades de acordo com a variedade, mas em essência, todos Homo Sapiens.
      O cara triste era árabe, a menina da apresentação tb, na verdade ela me explicou ontem q ela é persa! Mas ela não tava tentando enrolar não, ela apresentou o paper e no que sabia respondeu, no que não sabia tentou achar uma resposta, só isso.

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    2. Ela é persa como os tapetes made in china que vendem na loja de tapetes persas? =P

      Tem uma figurinha que eu quero mandar, mas aqui não dá. Acho que vai ser pelo email mesmo. Ela mostra a evolução do homem, que se resume em sexo, violência e cobiça.

      Jamie Oliver foi conhecer a culinária dos EUA. O racismo é tão forte em algumas regiões, que até mesmo os favelados dizem que viver na Inglaterra deve ser melhor, porque eles tem uma rainha, e não um crioulo. Veja só, tudo a ver com esse post.

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    3. É ela é persa, me deu uma pequena aula sobre a cultura dela, principalmente sobre religião...
      Descobri que sou completamente ignorante em história e religião.
      Acho que esse é o poder do conhecimento, quanto mais vc conhece coisas diferentes, mais se dá conta do quanto é ignorante, e mais quer conhecer e aí o ciclo fica infinito até um dia vc achar q já sabe tudo e deixar de ser curioso!

      Manda por email a figurinha!

      E sim, o racismo aqui é muuuuuuuuuuuuuuuito forte, tenho experiências pessoas e nada boas, já foi tema até de uma sessão de pscicanálise. Dá raiva, e o seu primeiro impulso é generalizar aquela atitude para toda uma classe...
      Papo pra outro post rs...

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